Por insistência minha, Sara até se esforçava em sair de casa algumas vezes com uma outra vizinha nossa, do andar de cima. Uma menina sensível e inteligente o suficiente para prender a atenção de minha filha por alguns momentos.

Daniela também não era grande adepta de voltinhas na praça, mas, talvez pela obstinação que sua mãe compartilhava comigo em ver uma filha adolescente se entregar a programas de adolescentes, vez ou outra batia lá em casa a procura de Sara e conseguia arrancá-la da frente do computador.

Claro que, nestas horas, Sara sempre se despedia de mim com um olhar de quem faz ao outro um grande favor e não se contentava em deixar isto subentendido. Ao voltar para casa me saudava com frases do tipo:

- E aí? Está satisfeita agora?

Ou:

- Pronto, mãe? Perdi uma tarde inteira. Está feliz?

Eu ignorava suas provocações na esperança de perceber em seus olhos um brilho especial na volta de um destes passeios.

Mesmo que a vida tenha me ensinado a não depositar grandes expectativas no amor, eu ainda acreditava que um belo rapaz traria minha filha à normalidade.

Sara não era uma filha má. Nem, tampouco, agressiva.

Talvez eu tenha lhe passado a impressão de que ela fosse estúpida comigo. Desculpe, mas não é nada disso.

Ela apenas tinha um gênio forte e, por isso, não conseguia manter dentro da cabeça os pensamentos. Quando algo a incomodava demais, nem mesmo a educação conseguia conservar sua boca fechada. Ela até se esforçava para dar um ar mais polido às palavras, tornando-as menos agressivas, mas nem sempre obtinha êxito.

E a minha persistência em obrigá-la a se divertir como as outras meninas era algo que a aborrecia demais. Sempre que eu parecia vencer uma batalha e ela cedia a algum programa padrão, Sara se fechava ainda mais em seu mundo extraordinário e me excluía da oportunidade de compartilhá-lo.

Na verdade, ela até fez algumas tentativas de dividir comigo seus interesses, mas, frustrada diante da minha incompreensão perante a importância de impedir a pesca de baleias por japoneses, desistiu.

Eu também, embora não pudesse admitir nem para mim mesma, estava desistindo.

 

 

 



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2 comentários:

    Anônimo disse...

    Pelo fato de a Sara mostrar sinais de comportamento anti-social (evitação de contato) essa mãe não procurou ajuda?
    Bjs.
    Janeisa

  1. ... on 27 de abril de 2009 às 08:19  
  2. www.gene1genesis.blogspot.com disse...

    Com o surgimento do pretendente, acho que a Mãe de Sara vai procurar ajuda. Para cada situação existe um profissional competente.
    Bj°°°sss
    NeideCosta

  3. ... on 30 de abril de 2009 às 11:47