Tudo bem. Você tem razão. Eu errei.

Eu acho.

Talvez eu devesse mesmo ter procurado ajuda profissional, devesse ter levado Sara para conversar com alguém que possuísse os atributos necessários para auxiliá-la a domar o espírito rebelde que sempre possuiu.

Provavelmente eu teria que obriga-la a fazer terapia e isso, sem nenhuma chance de erro, renderia boas discussões e alguma revolta, mas, enfim, o profissional capacitado lhe mostraria o caminho correto e nós teríamos sido felizes para sempre.

Acontece que de onde eu venho não se entrega a educação de um filho a um estranho qualquer e nenhum diploma do mundo torna uma pessoa adequada para lidar com alguém mais do que a própria mãe.

Não que as mães sempre entendam os filhos, mas cabe sempre a elas a dolorosa tarefa de, em silêncio, em segredo, analisar as crias, tentar compreender seus anseios, orientar seus caminhos e, principalmente disfarçar da maneira que for necessária suas deformidades de caráter, a ponto de acreditar ter-lhes amoldado até o limite do tolerável.

Talvez você não tenha me compreendido.

Você é mãe?

Não que para entender seja necessário sê-lo. Apenas isso torna tudo bem mais fácil, pois, sendo assim, basta admitir algo que, talvez você venha escondendo de si mesma. E do mundo.

Admita comigo: nossos filhos são perfeitos, fabulosos, admiráveis. Acontece que, em muitos casos, o mundo não está preparado para eles e, então, nós, como mães, somos responsáveis por amenizar os conflitos que terão que enfrentar. Se eles tem algum problema, a culpa é do mundo, dessa sociedade corrompida por valores deturpados. A culpa muitas vezes é nossa por não suportarmos o peso da tarefa de ser mãe e não desenvolvermos com perfeição a obra que nos cabe.

Não é fácil ser mãe.

Principalmente porque a responsabilidade por qualquer desvio no trajeto do sucesso é sempre nossa.

Nunca é deles.

Afinal eles nos são entregues anjos. Doces e completamente vulneráveis aos perigos do mundo e às maldades dessa vida.

Nós somos as culpadas por transformá-los de anjos em homens.

Todos os filhos nascem anjos.

O que eu poderia dizer de Sara, então?

Ela tinha asas.