Eu nem insistia mais para que Sara passasse um batom e também já desistira de comprar-lhe enfeites para o cabelo, pois ela tinha uma caixa cheia destes, alguns ainda com a etiqueta e a grande maioria sem nunca ter saída pela porta.
Sentia-me derrotada, frustrada, vencida pela excentricidade de Sara.
Desistira de preparar-lhe um enxoval e já pensava na aquisição de um cachorrinho para me fazer companhia e preencher meu sonho de netos quando Gustavo mudou-se com a família para o nosso prédio.
Sua mãe me parecia muito simpática e o pai, apesar de simples, demonstrava dar valor ao que era certo.
Tudo bem. Os dois eram bastante jovens. Quem me lê talvez pense que a idade de Sara fosse avançada o suficiente para enfraquecer minha esperança em vê-la casada.
Não era. O que me desestimulava em sonhar era seu comportamento, não sua idade.
Mas a chegada de Gustavo trouxe para mim a sensação de ser tocada por uma agradável brisa no meio de uma tarde de calor infernal.
Em outras palavras: um alívio, uma esperança.
Ele era tão bonito, tão gentil, e me parecia tão inteligente que Sara não poderia resistir.
Além disso, o tom bastante claro de sua pele deixava transparecer o rubor que o dominava sempre que Sara estava por perto.
Claro que eu conhecia aquele sinal. Apesar de fazer muito tempo que não me deparava com nada assim, eu podia apostar que aquele menino estava interessado em Sara.
Era tão fofo.
Sempre educado, procurava disfarçar a excitação ao ver Sara direcionando a atenção para mim. Cumprimentava-me muito sorridente e carregava minhas compras quando nos encontrava-mos na entrada do prédio.
No inicio Sara não demonstrou nenhum sentimento em relação ao novo vizinho, mas, ao perceber as intenções do garoto, que eram cada vez mais evidentes e, principalmente, ao perceber as minhas intenções em relação ao futuro dos dois, ela foi se tornando cada vez mais impaciente e qualquer coisa que viesse do pobre Gustavo passou a irritá-la.